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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Transtornos Alimentares

A obsessão por um corpo perfeito tem sido causa de adoecimento e morte de milhares de pessoas, especialmente mulheres jovens, no mundo inteiro. A exaltação da magreza extrema, bem como a busca incessante de um corpo perfeito fundada em imagens irreais muitas vezes produzidas pelo famoso foto shop, costumam ser a válvula propulsora do surgimento dos transtornos alimentares.

O DSM-IV-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) da American Psychiatric Association, classifica no rol dos transtornos alimentares:

1. Anorexia;
2. Bulimia;
3. Transtornos alimentares sem outra especificação, onde encontramos o chamado Binge Eating (TCAP – transtorno de compulsão alimentar periódica).

A obesidade simples é incluída na Classificação Internacinal de Denças (CID) como condição médica geral, não aparecendo no DSM-IV.
                                                                                
ANOREXIA

Consiste num transtorno alimentar onde o sujeito se recusa a manter o corpo em peso normal, aliada a um grande pavor de engordar e uma percepção significativa da forma ou do tamanho real do corpo, em razão do que os outros percebem que o sujeito está muito mais magro do que o normal, mas ele considera seu peso e comportamento de restrição alimentar completamente normais.

A anorexia possui dois subtipos:

1. Tipo Restritivo
2. Tipo Compulsão Periódica/Purgativo.

Alguns devem estar-se perguntando: “compulsão alimentar periódica e comportamento purgativo não são da bulimia”? Importante elucidar que na bulimia, transtorno que abordaremos mais adiante, há episódios recorrentes de compulsão alimentar e purgação, mas, ao contrário da anorexia do tipo compulsão periódica/purgativo, os bulímicos são capazes de manter o peso corporal normal ou até um pouco acima.

A anorexia tem maior prevalência em países industrializados e desenvolvidos, onde os padrões de beleza exigem um corpo esbelto. As mulheres sofrem bem mais de anorexia do que os homens, embora estes também possam apresentar o transtorno.

O início da anorexia se dá na adolescência (entre 14 e 18 anos), sendo muito raro seu aparecimento em pré-púberes. Também é raro o surgimento da doença em mulheres acima de 40 anos.

O curso da anorexia é bastante variável. Alguns pacientes apresentam um único episódio ao longo da vida, com total recuperação. Outros, vivem em quadro crônico de anorexia, adotando-a como estilo de vida, o que se percebe em muitas celebridades internacionais. Há ainda quem apresente flutuações no curso da anorexia, alternando ganho de peso e recaídas.

Vale trazer a lume que alguns pacientes, portadores do subtipo restritivo, podem desenvolver um comer compulsivo. Neste momento o paciente migra do subtipo restritivo para o subtipo compulsão periódica/purgativo, podendo ter o diagnóstico modificado para a bulimia nervosa.

A internação pode ser fazer necessária para hidratação e nutrição do paciente. A morte de pacientes hospitalizados é de mais de 10%, nos termos do DSM-IV-TR.

BULIMIA

A bulimia consiste num transtorno alimentar onde estão presentes episódios freqüentes de compulsão alimentar, seguidos de métodos compensatórios (indução de vômitos, uso de laxantes, diuréticos, jejuns, exercícios excessivos). O paciente portador de bulimia também é muito rígido na avaliação do próprio corpo e peso. Para que o transtorno possa ser diagnosticado, as compulsões alimentares e os comportamentos compensatórios devem ocorrer ao menos duas vezes por semana por 3 meses.

A bulimia possui dois subtipos:

1. Tipo Purgativo: Aqui o indivíduo se vale de indução de vômitos, laxantes, diuréticos;
2. Tipo Não Purgativo: neste subtipo o indivíduo se vale de jejuns ou exercícios excessivos como métodos compensatórios.

A bulimia é mais prevalente entre adolescentes e mulheres jovens, apresentando uma taxa de incidência de 1 a 3%. Em homens a ocorrência é de um décimo da que ocorre em mulheres.

As crises de bulimia costumam aparecer entre ou após um episódio de dieta restritiva. A bulimia costuma ser duradoura, onde o paciente mantém o comportamento por vários anos. O curso pode ser crônico ou intermitente, alternando remissão e crises recorrentes.

TRANSTORNO DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (BINGE EATING)

O Transtorno de Compulsão Alimentar  Periódica (TCAP) é uma patologia de diagnóstico relativamente recente. O termo comer compulsivo surgiu na década de 1950, na Universidade da Pensylvania, cunhado por Albert Stunkard. Mas, essas pesquisas foram esquecidas, nos termos de Fairburn em Overcoming Binge Eating (1995), até meados dos anos 1980, quando o trabalho realizado por um grupo de pesquisadores da Columbia University, liderados por Robert Spitzer, concluiu pela existência de um transtorno alimentar que possuía a compulsão como característica, mas se distinguia da bulimia. Este transtorno foi chamado inicialmente de pathological overeating syndrome, posteriormente cunhado como binge eating disorder. No ano de 1994, o transtorno foi incluído no DSM-IV, na categoria transtorno alimentar sem outra especificação.

Segundo Ballone (psiqweb.med.br), o TCAP aparece em aproximadamente 2% da população geral. Cordás (2008), elucida que, no Brasil, segundo Appolinario, Coutinho, Povoa e Borges, a prevalência de TCAP é de 15 e 22% em pacientes que procuram tratamento para emagrecer.

O paciente com TCAP apresenta crises bulímicas sem o uso regular de comportamentos compensatórios, característicos da bulimia.

O TCAP, assim como a bulimia, é considerado um Transtornos do Impulso. A impulsividade, nos termos de Tavares (2008), é considerada uma característica de comportamento marcada por reações rápidas e não planejadas, em que a avaliação das conseqüências não é realizada, ou é apenas de forma parcial, focando-se preferencialmente em aspectos imediatos em detrimento das consequências de longo prazo.

A principal característica do TCAP é o comer compulsivo. O paciente não consegue controlar sua impulsividade e come descontroladamente. Nos termos de Fairburn em Overcoming Binge Eating (1995), um episódio de TCAP é caracterizado por:

1. Comer, em curto período de tempo (por exemplo, entre um período de duas horas), uma quantidade de comida que é muito superior do que a maioria das pessoas comeria no mesmo período e sob as mesmas circunstâncias;
2. Sentir que perde o controle quando inicia um episódio de compulsão alimentar.

A perda de controle é realmente central no TCAP e ao contrário dos anoréxicos e bulímicos, os portadores de TCAP, conforme elucida Joyce Nash em Binge no More (1999), não almejam estar abaixo do peso, mas ficariam felizes em apresentar peso corporal normal.

TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES

O tratamento dos transtornos alimentares deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar. Esta deve ser composta por: psicólogo (habilitado a trabalhar com a TCC), psiquiatra, nutricionista (especializado em transtornos alimentares) e educador físico.

O tratamento da anorexia costuma ser particularmente difícil, pois a maioria dos pacientes não se reconhece doente e considera a anorexia um estilo de vida. Daí a necessidade da participação da família no processo.
Ainda no que tange à anorexia, Mônica Duchesne, da PUC/RJ, em publicação na Revista Brasileira de Psiquiatria, elucida que as estratégias sugeridas para o tratamento da anorexia objetivam a diminuição da restrição alimentar e da freqüência de atividade física, facilitando o aumento do peso; a diminuição do distúrbio da imagem corporal; a modificação do sistema disfuncional de crenças associadas à aparência, peso e alimentação e o aumento da auto-estima.

Tanto a anorexia, quanto a bulimia e o TCAP são tratados por meio de psicoterapia e de medicação. A psicoterapia Cognitivo Comportamental é a que apresenta melhores resultados, conforme coloca Cordás (2008).

ENDEREÇOS ÚTEIS:

AMBULIM – Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Rua Dr. Ovídeo Pires de Campos, 785 (2º andar) – São Paulo.
Tel.: 11-3069-6975
Site: www.ambulim.org.br

PROATA - Programa de Orientação de Assistência aos Pacientes com Transtornos Alimentares – UNIFESP.
Rua dos Otonis, 887 – São Paulo.
Tel.: 11-5579-1543
Site: www.unifesp.br

GENTA – Grupo de Estudos em Nutrição e Transtornos Alimentares
Rua Cotoxó. nº 303, sala 127 - Pompéia - São Paulo.
Tel/Fax: (11) 3672-3869


Dieitos autorais reservados.

KARINA ALECRIM BESSA

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