O transtorno bipolar do humor é uma doença caracterizada por oscilações do humor e do comportamento.
O transtorno bipolar não é uma doença nova. Há registros de que na Grécia antiga, já havia uma doença que evoluía da melancolia para a mania. Esse conceito permaneceu até o iluminismo europeu dos séculos XVII e XVIII, quando foram descritas várias entidades nosológicas de evolução cíclica ou periódica, como a loucura circular e a loucura de dupla forma, nos termos de Yuan-Pang Wang (2008).
No final do século XIX, ocorre um grande marco histórico para o entendimento do transtorno bipolar, quando Kraepelin, um psiquiatra alemão, separou as psicoses em dois grandes grupos (demência precoce e insanidade maníaco-depressiva), como bem elucida Del Porto, na revista brasileira de psiquiatria. Ao final de seus trabalhos Kraepelin conceituou a “insanidade maníaco-depressiva” e colocou especial ênfase nas características da doença que mais claramente a diferenciavam da demência precoce: o curso periódico ou episódio, o prognóstico benigno e a história familiar de quadros homólogos (maníaco-depressivos). O nome da doença evoluiu para “psicose maníaco-depressiva” e Del Porto lembra ainda que as classificações nosológicas atuais (DSM, CID 10) baseiam-se, em linhas gerais, ainda nos preceitos de Kraepelin.
O nome “psicose maníaco depressiva” foi substituído pelo termo Transtorno Bipolar do Humor, em razão de que na maioria das vezes os sintomas psicóticos não aparecem. Hoje, o transtorno bipolar é considerado um transtorno do humor, assim como a depressão unipolar, por exemplo.
O humor normal flutua. Quem não oscila entre alegria, tristeza, raiva, excitação? Para que essa variação seja considerada saudável é necessário, entretanto, que ela seja proporcional ao seu foco gerador, à situação que deu causa a oscilação.
No transtorno bipolar, aliás essa é sua característica mais marcante, ocorre uma alternância de estados de humor, onde há uma flutuação entre DEPRESSÃO e MANIA. Há ainda o chamado ESTADO MISTO.
DEPRESSÃO
A depressão do transtorno bipolar apresenta as mesmas características da depressão unipolar:
Perda de energia;
Baixa no estado geral de humor;
Cansaço físico ou psíquico;
Dificuldades de atenção, concentração e memória;
Pensamentos negativos;
Pessimismo;
Baixa auto-estima;
Baixa da libido;
Insônia ou sono em excesso;
Perda ou aumento de apetite.
MANIA
A mania do transtorno bipolar é uma espécie de euforia, onde o sujeito apresenta uma alta em seu estado geral de humor, com as seguintes características básicas:
Energia elevada;
Irritabilidade;
Aceleração física e/ou psíquica (aqui há uma aceleração do curso dos pensamentos);
Fala acelerada e exagerada;
Hiperatividade;
Pensamentos positivos;
Aumento da libido;
Muitas idéias;
Grandiosidade (falta de medo, sentimento de superioridade...)
ESTADO MISTO
No estado MISTO, o sujeito oscila entre depressão e euforia em 24hs ou pode haver, nos termos de Doris Moreno (2008), uma superposição de sintomas depressivos e maníacos, o que resulta em:
Alta ansiedade;
Desespero;
Angústia;
Aflição;
Irritabilidade;
Aceleração;
Agitação + lentificação (física/mental);
Aumento dos impulsos;
Aumento da fome;
Aumento do uso de álcool e drogas;
Aumento de sintomas obsessivo-compulsivos;
Insônia grave ou trocar o dia pela noite.
ESPECTRO BIPOLAR
As variações do espectro bipolar, nos termos de Diogo Lara (2009), são:
Tipo I: aqui temos o bipolar clássico, que oscila do pico mais elevado da mania para a depressão mais severa.
Tipo II: aqui existe uma predominância do estado depressivo. A fase maníaca é branda e é chamada de hipomania. O diagnóstico não é simples e muitos bipolares do tipo II são tratados como portadores de depressão unipolar.
Tipo III: esta classificação é usada quando a fase maníaca foi induzida por uso de antidepressivos ou psicoestimulantes, ou seja, o paciente faz parte do espectro bipolar, mas o pólo positivo foi descoberto pelo uso das drogas.
Tipo IV: aqui, elucida o autor, estão os bipolares que nunca apresentaram mania ou hipomania, mas que tem um histórico de humor mais vibrante, na faixa hipertímica. A fase depressiva geralmente tem características mistas.
CAUSAS DO TRANSTORNO BIPOLAR
Mas o que causa o transtorno bipolar?
Há estudos comprovando existir um forte componente genético aliado a fatores ambientais. Isso significa dizer que para desenvolver o transtorno bipolar do humor o sujeito precisa ter uma predisposição genética para tanto. Mas, isso não é suficiente. Aliada a essa predisposição genética existe o ambiente. Este se traduz por vivências e experiências do sujeito, desde o nascimento e principalmente no âmbito da família, já que nossas primeiras interações são com os pais e familiares. Quando o ambiente é hostil e desfavorável, as chances de desenvolver a doença são muito maiores.
TRATAMENTO
O tratamento do transtorno bipolar se dá, basicamente, por duas vias:
Psicoterapia - sob a responsabilidade de um psicólogo;
Psicofarmacologia - sob a responsabilidade de um psiquiatra.
A psicoterapia se faz extremamente necessária, principalmente no sentido de ajudar o paciente a aderir ao tratamento.
Há estudos comprovando a eficácia da terapia cognitiva no tratamento do transtorno bipolar. A terapia familiar também é útil, pois o transtorno bipolar envolve hereditariedade e quando um membro da família é identificado como portador do transtorno é preciso atenção, pois outros membros podem ser bipolares.
Quanto à psicofarmacologia, vários tipos de medicamento são utilizados no tratamento do transtorno bipolar, tais como:
Estabilizadores do humor - aqui o fármaco mais comum e conhecido é o lítio;
Antipsicóticos - esta classe de medicamentos tem sido amplamente utilizada e temos como exemplo: clozapina, risperidona, quetiapina dentre outros.
ENDEREÇOS ÚTEIS:
INSTITUIÇÕES NACIONAIS:
ABRATA – Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos.
Av. Paulista, 2644
São Paulo – SP
GRUDA – Grupo de Estudos de Doenças Afetivas – FMUSP
Rua Ovídio Pires de Campos, 225M
São Paulo – SP
Projeto Fenix
PRODAF – Programa de Distúrbios Afetivos e Ansiosos – UNIFESP
Rua Botucatu, 416 – Vila Mariana
São Paulo – SP
INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS:
Juvenile Bipolar Research Foundation
International Society for Bipolar Disorders
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KARINA ALECRIM BESSA
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