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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Ansiedade

Hoje estamos inaugurando nosso blog. Que alegria!
Nossa publicação de abertura será sobre ansiedade.

Mas, o que é ansiedade? Você sabe? Já sentiu o coração bater mais forte, as mãos suarem, o corpo tremer, o ar faltar?...

Sentir ansiedade não é necessariamente patológico. Isso significa que sentimentos ansiosos estão presentes na vida cotidiana de todo ser humano. Quem nunca sentiu o coração bater descompassado diante de uma situação nova ou desafiadora? Não há quem não vivencie tal situação, seja uma criança em seu primeiro dia na escola, seja um Chefe de Estado a tomar posse do novo cargo.

E não é apenas em situações desafiadoras que sentimos ansiedade. Esta tanto existe na vida de todos nós, quanto é necessária para nossa sobrevivência. É a ansiedade que nos alerta a solucionar um problema, a nos protegermos contra um perigo. Entretanto, quando a ansiedade ultrapassa certos limites, torna-se patológica e inflige grandes sofrimentos aos seus portadores.

Embora seja, a ansiedade, um espectro normal da vida psíquica do ser humano, ela se torna patológica quando é desproporcional ao foco que a gerou, ou quando persiste sem razão específica. Como bem coloca Sônia Del Nero (2002), quando a ansiedade ultrapassa os limites esperados transforma-se em desconforto.

Zimerman (2007), afirma que a ansiedade (aqui em sentido patológico) é o sinal mais evidente de algum sofrimento psíquico. Entretanto, como bem lembra Cassorla (2005), o limite entre a ansiedade normal e a patológica é muito tênue.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (Burden of Mental and Behavioural Disorders. The World Health Organization - Organização Mundial de Saúde – OMS), sintomas de ansiedade patológica estão presentes em grande número de pessoas nos dias atuais, principalmente nos grandes centros urbanos. Na cidade do Rio de Janeiro estima-se que 22,6% da população sofre de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).

Bourne (2008), relata que o ambulatório de ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, em pesquisa recente, registrou que 25% da população brasileira sofre de algum transtorno de ansiedade.

Contudo é inegável que mesmo diante de catástrofes, desgraças e sofrimentos, alguns conseguem manter sua sanidade e seguem a vida sem maiores problemas. Outros, entretanto, sucumbem e adoecem diante das mesmas situações. Isto se deve ao fato, nos termos de Sônia Del Nero (2002), de que a quantidade de tensão que pode ser suportada por cada um, varia de indivíduo para indivíduo.

Melanie Klein (1946), defende que as ansiedades surgem muito cedo e que no nascimento já existe um ego rudimentar, que tanto experimenta como se defende da ansiedade.

Hoje é sabido que o ambiente contribui para a formação do psiquismo humano. É uma junção das pulsões (questões interiores) com as questões ambientais (a exemplo da função continente da mãe, defendida por Wilfred Bion) que formam o mundo interior e este poderá ser sadio ou patológico.

Bock (2008), em seu livro Psicologias, traz que o psiquismo, o mundo interior é construído a partir das interações sociais. A primeira interação social do homem se dá no seio da família, seguida da escola e assim sucessivamente.

É focado no mundo interior de cada um que devemos analisar as chances de manifestações patológicas. Lembrando que ainda quando há questões ligadas à genética, o que existe é apenas uma predisposição genética à manifestação de algumas doenças, mas os fatores ambientais serão os determinantes para suas manifestações.

Vejamos a seguir a classificação dos transtornos ansiosos, trazida pelo DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria):

Os transtornos de ansiedade, nos termos do DSM-IV (1995), podem ser classificados em:
1.Agorafobia – É a ansiedade ou esquiva a locais ou situações das quais poderia ser difícil escapar, nas quais o auxílio poderia não estar disponível;
2.Ataque de pânico - Período no qual ocorre súbita e intensa apreensão, temor ou terror. O sujeito sente medo de “ficar louco” ou de morrer. Também podem ocorrer individual ou simultâneamente palpitações, sensação de sufocamento, desconforto toráxico. Pode ocorrer com ou sem agorafobia;
3.Fobia específica – Ansiedade clinicamente significativa provocada por exposição a um objeto determinado;
4.Fobia social – Ansiedade provocada pela exposição a certos eventos sociais;
5.Transtorno obsessivo-compulsivo – Caracteriza-se por obsessões e/ou compulsões que causam considerável ansiedade e sofrimento psíquico;
6.Transtorno de estresse pós traumático – Caracteriza-se pelo reviver de evento extremamente traumático;
7.Transtorno de estresse agudo – sintomas similares ao anterior, ocorrendo após situação traumática;
8.Transtorno de ansiedade por condição médica geral – ansiedade em conseqüência de situações fisiológicas diretas de condição médica;
9.Transtorno de ansiedade induzido por substância – ansiedade decorrente do uso de drogas lícitas ou ilícitas, álcool ou toxina.
10.Transtorno de ansiedade generalizada - caracteriza-se por pelo menos seis meses de ansiedade e preocupações excessivas e persistentes.
11. Transtorno de ansiedade sem outra especificação – transtorno de ansiedade ou esquiva fóbica que não satisfaz os critérios para qualquer um dos transtornos de ansiedade específicos.

TRATAMENTO

O objetivo maior e primeiro do tratamento dos transtornos de ansiedade é minimizar os sintomas, tanto físicos quanto psíquicos, no intuito de reduzir o sofrimento do portador. Trabalha-se no sentido de fortalecer a resistência do portador aos estressores, bem como para corrigir a distorção do paciente no foco estressor.

A psicoterapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma opção comprovadamente eficaz para tratamento de pacientes portadores de  transtornos de ansiedade. Ademais a TCC apresenta baixos índices de desistência, (BECK, 1997).

A TCC também mostra-se eficaz, pois é possível por meio desta forma psicoterápica, orientar o paciente a reconhecer e posteriormente substituir os chamados PAMS (pensamentos automáticos e disfuncionais) que, relacionados a algumas emoções, causam, muitas vezes as distorções cognitivas que iniciam e mantém a doença. (VOLPATO, 1998).

A psicoterapia de linha psicanalítica, embora mais longa, também é utilizada no tratamento dos transtornos de ansiedade. Cláudio Eizirik em Psicoterapia de orientação analítica (2005) propõe conduta diferenciada para ansiedades mais arcaicas e ansiedades flutuantes. Pacientes portadores de ansiedades mais arcaicas precisariam entrar em contato com a parte psicótica da personalidade, trazida a lume por Wilfred Bion, na qual os mecanismos de defesa mais primitivos, como identificação projetiva, idealização, dentre outros, encobrem as citadas ansiedades.

O tratamento farmacológico pode se fazer necessário e o psicólogo deve estar atento para encaminhar o paciente à avaliação médico-psiquiátrica sempre que preciso.


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KARINA ALECRIM BESSA


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